Seu primeiro contato com a fisioterapia foi por causa de um entorse de tornozelo, que ao ser tratado por um fisioterapeuta despertou seu interesse pela profissão. Graduou-se em Fisioterapia na Faculdade do Clube Náutico Mogiano em Mogi das Cruzes; no penúltimo ano, prestou concurso público para a prefeitura de Itaquaquecetuba e foi chamado para trabalhar em uma Escola de Educação Especial. Mais tarde, trabalhou como professor auxiliar na faculdade em que se graduou e depois em outra universidade em Mogi das Cruzes. Nos anos 2000, após ter trabalhado em diversas universidades inclusive em São Paulo, o colega professor Carlos eduardo Panfilio o convidou para conhecer a USCS e queria que ele lecionasse na universidade. Prestou o concurso e em 2003 começou a sua jornada na USCS, o mesmo ano do início do curso de Fisioterapia. Em 2005, tornou-se o coordenador da Clínica de fisioterapia e dos estágios; nove anos mais tarde assume como diretor da Escola de Saúde. |
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Pergunta:
Bom, eu queria que você começasse falando seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
Resposta:
Bom, meu nome é Paulo César Porto Deliberato, sou nascido há quase 50 anos, sou do dia primeiro de novembro de 1967. Sou nascido em uma cidade da grande São Paulo chamada Itaquaquecetuba. Há quase 50 anos, era uma bucólica, quase cidade do interior, hoje, quase meio século depois, ela foi engolida pela metrópole e praticamente na região metropolitana não há mais separação, não há mais divisão do município de Itaqua, São Paulo e com as outras cidades da região, virou uma massa urbana só.
Pergunta:
E como foi sua infância nessa bucólica de Itaqua?
Resposta:
Melhor impossível. Morei por 17 anos lá em Itaqua e como era uma típica cidade pequena, todos conheciam todos, então nós brincávamos na rua... Ao chegar da escola, almoçava, coloca shorts, chinelo ou tênis e íamos para a rua. Foi uma infância típica e que raramente se vê hoje nos grandes centros urbanos... Jogar bola no campinho, ficar com os amigos pela rua, bolinha de gude, pião... Enfim, todos tomavam conta dos filhos dos outros, todos eram conhecidos, então mesmo estando na rua, vamos dizer assim, ‘Ah, aquele é o filho do Lídio', ‘É o Paulo César filho da Diná', então todo mundo tomava conta de todo mundo né, então foi uma infância muito, muito positiva e também marcada por algumas coisas que olhando hoje, a gente vê que eram coisas que faziam parte daquela época, daquele momento, mas que hoje não me dão muito orgulho não. Nós caçávamos passarinho... Uma espécie de passarinho que tinha muito em Itaqua, a gente chamava de "rolinha", e as rolinhas eram nosso alvo favorito porque depois fazíamos churrasco com as rolinhas... Soltei muito balão, que hoje a gente sabe que é uma coisa bastante perigosa, mas não eram esses balões de hoje em dia também né, eram balões pequenos, de festa junina, mas que sem dúvida nenhuma, a questão de risco de incêndio sempre existiu. Empinar papagaio com linha de cerol, que hoje também a gente sabe quantas pessoas perderam a vida ou tiveram machucados importantes por causa dessa questão do cerol, dos cortantes nas linhas de pipa, mas fiz muito. Fui uma criança muito ativa, fui muito moleque, podemos dizer assim. Sou o irmão do meio dentre três irmãos homens, tanto o meu pai quanto a minha mãe são professores... Então imagina, em uma cidade, naquela época pequena, filhos de professores, então a gente era muito conhecido, muito peralta, mas sempre também muito protegido, porque como eu disse a gente sempre estava, em um bom sentido, sendo vigiados, por alguém que nos conhecia, porque as famílias todas da cidade naquela época se conheciam né.
Pergunta:
Como era o método de caça as rolinhas?
Resposta:
Primeiro era com um estilingue, depois com a evolução e com a chegada inclusive daquelas espingardas de chumbinho, a gente conseguia abater uma quantidade maior de passarinhos... Hoje, lembrando, da até uma dor no coração, a gente virou até defensor do meio ambiente e tudo, mas tem uma caderneta aí, tem um débito a se pagar aí atrás né.
Pergunta:
Você era bom em estilingue?
Respostas:
A gente tinha um pessoal bom... Meu pai tinha uma chácara, e do centro da cidade onde nós morávamos, até a chácara, não era muito longe, então nós conseguíamos, inclusive eu e meus amigos, ir a pé para a chácara e às vezes, também nessa chácara, nós fazíamos algumas armadilhas né, então [5'] eram colocadas redes com um produto que tinha na época, não me lembro mais do nome agora, mas era um tipo de um visco, então os passarinhos, ao voarem entre as árvores, ficavam presos nessa rede com esse visco e ficava mais fácil da gente pegar. Eu na época era pequeno, o abate mesmo dessas aves, quem fazia eram os meninos maiores, e eu era o penúltimo primo, então existiam os primos mais velhos e eu só não era o mais novo porque o primo mais novo da trupe era o meu irmão, era o penúltimo, meu irmão o mais novo e sempre andávamos com os primos um, dois ou três anos mais velhos também... As famílias todas, por exemplo, nós morávamos em casas uma ao lado da outra, isso era uma coisa interessante, então havia a minha casa, a casa do lado era a casa do meu tio na qual estavam meus primos, a outra casa do lado era da minha outra tia com os meus primos, e descendo a rua mais para baixo, havia mais um tio com alguns primos, então... Meu avô foi o primeiro prefeito dessa cidade, quando a cidade se emancipou, o meu avô foi o primeiro prefeito, meu pai foi vereador da cidade, então... Era tudo... Todo mundo era muito conhecido né, então apesar das peraltices, era tudo feito em uma situação mais controlada... Não vou dizer que não havia riscos, mas perante o que a gente tem hoje nas grandes cidades, foi uma infância bastante livre e melhor impossível.
Pergunta:
Você falou dos seus pais né, que eles eram professores... Fale um pouquinho deles.
Resposta:
O meu pai, falecido há quase cinco anos, era professor de português e também do antigo primário e a minha mãe era professora de estudos sociais e de uma matéria, uma disciplina que existia antes, chamada estudo dos problemas brasileiros (EPB), que hoje, se existisse, ia cobrir boa parte do conteúdo de ensino, porque o estudo dos problemas brasileiros... Se naquela época a gente já tinha, hoje então... Enfim, e também era professora do antigo primário. Então o que acontece: na escola municipal que existia na cidade, na verdade, escola estadual, em uma quarta série dava aula o meu pai, em outra quarta série dava aula a minha mãe, então nós filhos, eu e meu irmão não tivemos como fugir, ou tinha aula com o pai, ou tinha aula com a mãe, eu, por exemplo, tive aula com a minha mãe, o meu irmão mais novo já teve aula com meu pai... E eram características completamente diferentes, minha mãe ainda é viva, mora em Mogi das Cruzes... Meu pai, por exemplo, sempre foi muito protetor, então... Meu irmão teve a vida muito fácil na quarta série do ensino primário, a minha mãe desde o primeiro dia de aula falou o seguinte: ‘Bom, você vai ter aula comigo, então quero dizer para você o seguinte: se você tirar A, eu vou te dar B. ' - porque na época eram conceitos, não notas - ‘... Se você tirar B, vou te dar C. Se você estiver metido em alguma encrenca, ou se fizer alguma bagunça em sala de aula, eu vou punir você e talvez não vá punir os demais', ‘Pô, mas é meio injusto isso, não é mãe?', ‘É que eu não quero ninguém dizendo que eu estou superprotegendo ou que você está tendo alguma vantagem por ser meu filho, então antes que alguém fale, quero dizer para você que você vai ter que estudar o dobro para tirar uma nota boa, porque vou te dar uma nota menor do que aquela que você tirar. ' Mas enfim, foram épocas muito boas. Esse colégio chamava-se: Benedito Viera da Mota, então nós tínhamos aula nessa escola na cidade até o final do ensino, do antigo ensino primário e a partir do que hoje é o ensino fundamental e médio, teria que ir para outra escola estadual da cidade, chamada Francisco Milani. Não havia escolas particulares em Itaqua na época, agora eu e meus irmãos já tivemos a opção de no antigo colegial, equivalente a hoje o ensino médio, de ir estudar em Mogi das Cruzes, que era a cidade grande mais próxima, então nós pegávamos um ônibus circular intermunicipal que passava por Itaqua, levava a gente até a cidade de Mogi das Cruzes e fomos fazendo então essa parte do antigo colegial em escolas particulares.
Pergunta:
Como foi esse início da escola para você?
Resposta:
Foi bastante difícil. A primeira escola que eu... Você está se referindo as escolas particulares ou as escolas públicas? [10']
Pergunta:
O impacto na primeira infância ainda na estadual que você citou, porque você está ali naquela coisa que você falou de brincar na rua... Era uma coisa mais moleque e de repente tem que ir...
Resposta:
Foi bastante natural. A questão de inserção na escola foi bastante natural pelo fato dos pais serem professores, então mesmo antes de me verem como aluno, nós já frequentávamos a escola na verdade, era relativamente comum eu precisar ir com a minha mãe para pegar algum documento, ou ela ia para a escola por algum motivo e nos levava, então, nós já conhecíamos a escola, conhecíamos os funcionários, enfim... Brincávamos na escola durante as férias também, então foi muito tranquilo a questão de começar a estudar, por exemplo, a primeira série do antigo primário foi bastante tranquila. Depois, passando de uma escola para a outra, dentro do mesmo município, também foi tranquilo porque, como eu mencionei todos se conheciam então na sala de aula sempre havia amigos prévios que a gente já tinha fora outros que a gente fazia, então era muito fácil fazer amigos, tudo muito tranquilo. Na verdade, eu senti um pouco a diferença quando eu saí de Itaqua e fui para a escola particular, aí eu senti um pouco porque a primeira escola que eu entrei que eu fiz o antigo primeiro colegial, que hoje é chamado de ensino médio, eu me sentia bastante deslocado porque não conhecia ninguém e foi uma experiência diferente e não me adaptei nessa escola muito não, foi um ano bastante difícil, tanto que depois desse primeiro ano, para o segundo ano do colegial eu já troquei de escola, aí fiz o segundo e o terceiro colegial nessa escola de Mogi das Cruzes e me formei. Uma coisa interessante que acho que tem um pouco a ver sobre onde me encontro hoje como professor de fisioterapia, como fisioterapeuta, imagino que seja outra pergunta sua, mas só me antecipando um pouco... Esse fato de viver na rua, de lidar com acesso muito fácil a esportes, por exemplo, a gente tinha sempre questão de futebol, de basquete, campinhos a disposição, coisas que as crianças hoje já não têm nos grandes centros e as quadras das próprias escolas disponíveis né... Era aberto e a gente ia jogar bola, jogar basquete à tarde na escola, e não havia nenhum tipo de cerceamento, a gente entrava livremente na escola e tal. Eu com 13 anos para 14 anos tive a minha primeira entorse de tornozelo e em Itaqua, como naquela época era uma cidade pequena, nós não tínhamos muitas opções de atendimento, não tínhamos hospital, médicos eram poucos, e eu fui fazer fisioterapia em uma cidade próxima também chamada Suzano, então meu primeiro contato com a fisioterapia foi nessa época em que eu tinha 13 ou 14 anos e fui tratar uma entorse de tornozelo.
Pergunta:
Aí foi como paciente [risos].
Resposta:
Como paciente. Lembro-me até hoje de fazer as sessões de fisioterapia e muito curioso, ficava perguntando muito ao fisioterapeuta que me atendia: ‘Mas o que é isso que você está usando? Para que serve?', ‘Olha você está vendo que está inchado? Então esse inchaço, com esse equipamento, a gente vai tratar'... Como eu era menor de idade, 13 anos, eu me lembro de que meu pai me acompanhava nas primeiras terapias, nas próprias sessões de fisioterapia e aí ele até me chamou a atenção algumas vezes: ‘Deixe o fisioterapeuta trabalhar! Você fica fazendo pergunta para ele toda hora e está atrapalhando', mas ali foi o primeiro contato com a fisioterapia. Eu tive outras entorses de tornozelo depois, porque na época a gente não tinha... A gente tinha as questões de tratamento, mas a fisioterapia ainda não trabalhava muito com a questão da prevenção... Interessante porque eu saia de Itaqua, pegava o ônibus muito cedo para poder chegar no horário da aula lá em Mogi, era uma hora para chegar a Mogi, e eu já ficava, em alguns dias da semana, de tarde, para as aulas de inglês, porque eu fazia inglês lá em Mogi também, já pensando em vestibulares e essas coisas todas. E na escola de inglês eu tive outro contato [15'], eu já deveria estar, por exemplo, deveria estar no segundo ano do colegial, então estava me aproximando do momento de tomar a decisão do que fazer, e a decisão pela área da saúde já tinha sido decidida, até pela facilidade e afinidade que eu tinha com as matérias da área de biologia, e na turma de inglês eu vi uma pessoa, uma colega de turma, que estava com um agasalho, esses agasalhos tipo uniforme que o pessoal da educação física usa muito em algumas instituições, e aonde ela estudava eles também faziam isso, e eu vi então o uniforme e estava escrito o nome da faculdade e escrito "Fisioterapia", e eu logo comecei: ‘Não sabia que nessa faculdade havia fisioterapia. Você faz fisioterapia lá? Como é?', já comecei a perguntar... E são coisas que marcam a gente né, porque até o nome dessa pessoa, apesar de já fazer muitos anos, estamos falando de coisas que acontecera a mais de 30 anos atrás, chamava-se Érica essa colega de sala. E ela falou muito bem da fisioterapia, falou: ‘Olha, é uma profissão nova, estou gostando muito, estou satisfeita, encontrei-me dentro da profissão, da fisioterapia, é isso o que eu quero fazer', e eu fui então tomando mais informações sobre o curso de fisioterapia, então o caminho para a fisioterapia começou a ser trilhado um pouco lá atrás, nessa infância e adolescência maravilhosa em Itaquaquecetuba e depois no antigo colegial, em Mogi, tendo contato com as questões que envolviam a fisioterapia e as universidades, as instituições que tinham o curso de fisioterapia.
Pergunta:
E como foi o seu primeiro contato com o mercado de trabalho?
Resposta:
Eu fiz faculdade em Mogi mesmo e lá nós tínhamos como temos até hoje, uma faculdade pequena chamada: "Faculdade do Clube Náutico Mogiano". Ela começou com um curso de educação física e depois entrou o curso de fisioterapia, que são os cursos que até hoje essa faculdade tem. Naquela época as opções para o curso de fisioterapia eram muito restritas, então tínhamos essa faculdade em Mogi e a opção mais próxima depois era em São Paulo, no curso da USP, ou em Campinas, no curso da PUC - Campinas, enfim, então já deveria ver um deslocamento e nós não tínhamos recurso, eu não tinha na época com meus pais sendo professores de escola publica né, eu não sei se alguma vez na historia desse país os professores já foram bem remunerados, acredito que não, porque me lembro de que os meus pais, como éramos três irmãos com uma diferença pequena de idade de uma para o outro, a questão de bancar as escolas particulares que nós tivemos que ir a partir do colegial foi épocas bastante difíceis, então não havia a possibilidade de morar fora, por exemplo, que meus pais custeassem para eu ir estudar fora, de estudar em Campinas ou em São Paulo etc. Então eu acabei fazendo a faculdade lá em Mogi... Enfim. E o mercado de trabalho, quando eu estava no terceiro ano do curso... Naquela época a fisioterapia estava vivendo uma revolução, então éramos já contratados por clínicas de fisioterapia... Na época o mercado de trabalho era muito restrito ao que a gente chama hoje de parte tradicional né, então íamos trabalhar em uma clínica de fisioterapia que atendia principalmente pacientes ortopédicos, então essa era a realidade daquela época e a gente já tinha um pouco de convites de clínicas de fisioterapia ou ortopedia que faziam divulgação de estágios e tal, mas na verdade eu prestei um concurso público, quando eu estava no terceiro ano da faculdade para a prefeitura municipal de Itaquaquecetuba, está aí outra questão curiosa e interessante: quando eu tinha 17 anos, meu irmão mais velho tinha 18 para 19 anos e meu irmão mais novo 15 para 16 anos, nós nos mudamos meus pais já eram aposentados, então nós nos mudamos de Itaqua para Mogi das Cruzes, porque os filhos já estavam estudando em Mogi, então para evitar esse deslocamento e por ser Mogi uma cidade com mais recursos de ensino superior, de ter a universidade de Mogi, a universidade de Braz Cubas, a faculdade do Clube Náutico Mogiano, de ter hospitais, enfim de ser uma cidade com mais recursos e mais opções [20'], meus pais decidiram se mudar para Mogi das Cruzes. Então já morando em Mogi eu fiquei sabendo que na cidade onde eu nasci Itaqua, estava aberto um concurso de fisioterapia. No concurso não se exigia que fosse formado, então dava para se inscrever, e eu me inscrevi para treinar, para ver como seria participar de um concurso, e acabei passando, passei eram... Eu me lembro bem de que eram três vagas e eu passei em primeiro lugar, falei: ‘Puxa vida, que pena que eu estou no terceiro ano, porque não vou poder assumir a vaga caso seja chamado', mas foi interessante porque levou um ano para a prefeitura chamar, então quando eles me chamaram, eu já estava praticamente formado, era só uma questão de esperar a colação de grau e deu tudo certo, parece que era para ser o retorno à Itaqua, e trabalhei pro três anos na prefeitura como concursado.
Pergunta:
Você citou as três faculdades da cidade, qual foi a que você fez?
Resposta:
Eu fiz a faculdade do Clube Náutico Mogiano.
Pergunta:
Ah, faculdade do Clube Náutico Mogiano...
Resposta:
Porque naquela época era a única que tinha de fisioterapia. Uma coisa interessante em relação à fisioterapia: até hoje nós temos muitos alunos, muitos não, isso caiu muito nos último cinco ou dez anos, mas ainda hoje é comum a gente receber na fisioterapia e um pouco também na enfermagem, alguns alunos com o seguinte histórico de que queriam fazer medicina e tiveram algum problema para fazer medicina, ou não tinham condições financeiras ou tentaram fazer medicina nos vestibulares das instituições públicas, que são vestibulares difíceis... Hoje, para você entrar em medicina em uma instituição pública, a média aí são de quatro anos de cursinho, então é difícil. Então nós recebemos alguns alunos com essa característica, ou mesmo quando a gente vai participar de feiras estudantis, quando a gente conversa um pouco com os alunos, tem isso: ‘Ah, mas por que você quer fazer fisioterapia?', ‘Não, na verdade eu queria fazer medicina, mas não sei se vai dar, é difícil e tal, então estou pensando na fisioterapia', e eu sempre conto a minha história porque quando eu decidi fazer fisioterapia, eu já conhecia um pouco por ter sido paciente e por ter ido me informar um pouco, mas naquela época nós não tínhamos todos os recursos de informação tão acessíveis como nós temos hoje, por exemplo, não tínhamos internet naquela época né, então você tinha que buscar informações, como eu fiz, aproveitando a oportunidade que surgiu de alguém que fazia a faculdade de fisioterapia, por conta disso meus pais acharam muito estranho quando eu falei que queria fazer fisioterapia, demoraram uns dois anos para entender o que é fisioterapia... Na época eu namorava uma pessoa, que depois se tornou até a minha esposa, ela era aluna do curso de odontologia lá na faculdade de Mogi e ela também falava: ‘Mas fisioterapia? Veja bem o que é isso, como é e tal... Você gosta tanto da área da saúde, você me da dica de biologia... '- porque eu estudava junto com ela para as provas né - ‘... Por que você não tenta fazer medicina ou odontologia?', ‘Ah, mas eu acho que é fisioterapia mesmo que eu quero', mas por conta dessa questão do desconhecimento sobre o que era a fisioterapia na época, eu prestei para a faculdade de odontologia lá em Mogi e para medicina também. Eu me lembro de estar viajando na época em que saiu o resultado, e ela me ligou dizendo: ‘Você passou em odontologia!' - o resultado da fisioterapia já havia saído - ‘Você passou em odontologia e ficou em fila de espera para medicina', ‘Ah, mas qual classificação eu fiquei em medicina?', ela falou a classificação e eu falei: ‘Ah, esse número não irão chamar', fiquei em cento e pouco, duzentos e pouco e eram, se eu não me engano setenta ou oitenta vagas, e ela falou: ‘Não, é muito comum que quem presta medicina, preste em vários lugares, vai ter segunda chamada, vai ter terceira chamada, quarta chamada... ', eu não me lembro se cheguei a ser chamado ou não, mas me lembro de que a numeração chegou bem próxima e me lembro de haver uma pressão muito grande da namorada e da família para que eu fizesse odontologia, já que eu havia sido aprovado, ou fazia um ano de cursinho, ou esperava mais um pouco para ver se dava para ser chamado para medicina, e na época eu já tinha decidido o que fazer, falei: ‘Não, é fisioterapia mesmo o que eu quero, não vou esperar mais nada, vou fazer fisioterapia, e se caso quando eu começar a fazer o curso, não gostar, eu paro e vou fazer cursinho'. [25'] E o apoio veio só da mãe, nessa hora o papel da mãe é incrível né, ela falou: ‘No final das contas, faça o que você achar que deva fazer, não fique pensando se vai ter emprego, se é fisioterapia o que você quer, vai e faz', e eu trabalhava na época também, porque como eu disse a nossa situação financeira... Era uma situação... Razoável, vamos dizer assim, não é que a gente passasse por alguma necessidade, mas com três filhos, pai e mãe como professores aposentados da rede pública né... Então eu trabalhava, eu entrei na faculdade trabalhando.
Pergunta:
Você trabalhava aonde?
Resposta:
Eu trabalhava em uma conexão, foi até um amigo do meu pai que o filho dele montou uma confecção e eu manifestei o desejo... Era uma faculdade particular, então eu me incomodava com o fato dos meus pais estarem pagando a faculdade de engenharia do meu irmão mais novo, estar pagando a escola particular do meu irmão mais novo e ainda ter que pagar a minha mensalidade na fisioterapia, e eu falei: ‘Quero trabalhar, estou estudando apenas de manhã, com o período da tarde e da noite livres', e conversando com essa pessoa, ele: ‘Olha, meu filho está precisando. Ele montou uma confecção e está precisando de alguém', então eu fui trabalhar nessa confecção. Mas chegou ao final do ano e não estava dando para dividir, o curso cada vez mais difícil, pouco tempo para estudar... E eu me lembro de chegar ao final do primeiro ano, pedir para conversar com meu pai e minha mãe para expor a situação, falei: ‘Olha, estou indo muito bem no trabalho... ' - já estava inclusive fazendo algumas coisas sozinho, tendo certa autonomia - ‘... Ou continuo trabalhando e vou para essa área e tenho que parar a faculdade, ou continuo na faculdade, porque não está dando. Não peguei nenhum DP, mas para o semestre seguinte e pensando também que daqui a três anos a gente vai fazer estágio, de qualquer jeito não vai dar para conciliar o estágio com trabalho', e eu me lembro de meus pais terem me apoiado integralmente, falaram: ‘Olha, não são duas opções. Então se você está pedindo a nossa opinião, nós queremos que você continue estudando. A gente dá um jeito, não sabemos ainda como, mas a gente dá um jeito. ', então continuei a estudar. E é engraçado porque muitas vezes hoje eu me lembro de dois três anos atrás, uma turma de alunos conversando comigo sobre uma situação particular e específica daquela turma, um dos alunos falou assim: ‘Ah, professor, mas para o senhor falar é fácil né? O senhor é gestor do curso', me lembro de que me veio toda essa história rapidamente na cabeça e falei para ele: ‘Quero dizer uma coisa a você e para vocês todos: eu não nasci gestor de curso. Isso que você estão passando, eu já passei, também estive em uma situação na qual eu precisei optar em continuar trabalhando ou estudar e na época, com bastante sacrifícios dos meus pais, houve a possibilidade de eu continuar estudando, mas nada cai do céu, então se eu estou aqui hoje como gestor, é porque tem toda uma trajetória, um histórico que eu tive que fazer até chegar a esse momento aqui.', então que nos vê como gestor, livro publicado, fez mestrado, a caminho do doutorado, essas coisas todas... Não imagina o que a gente tem de história lá atrás.
Pergunta:
E esse é o objetivo do nosso papo, da gente trazer isso, porque é realmente o que você falou às vezes a visão que têm é só a visão do professor ali em sala de aula, mas não tem o histórico do que ele fez para chegar até ali. E aí eu queria que você falasse exatamente sobre isso, você está no curso de fisioterapia e consegue um emprego lá... Voltando...
Resposta:
Cidade natal.
Pergunta:
Quando sua família se mudou você acabou voltando para a cidade natal. Fala um pouquinho de como é a trajetória profissional, como ela se desenvolve, e como a docência chega nessa história.
Resposta:
Posso contar de um fato que eu me lembrei agora?
Pergunta:
Claro!
Resposta:
Eu acho muito interessante também. Dos meus três irmãos, eu era o que mais vivia na rua. Meu irmão mais velho já era mais reservado, ficava em casa... E era até um fato que incomodava um pouco ele porque quando ele conhecia alguém, perguntavam: ‘Ah, então você é o irmão do Paulo?', e ele falava: ‘Não! Ele que é meu irmão porque eu sou o mais velho', então eu era o conhecido na cidade e tal. [30'] Por volta da antiga sétima série, eu não me lembro de qual equivalência tem hoje para o ensino fundamental, mas é a antiga sétima série, eu decidi tirar um ano para me divertir, eu frequentei pouco os estudos, mas foi uma coisa até meio consciente né, então... Na escola eu matava aula e ficava jogando bola na quadra, enfim, e acabei perdendo aquela sétima série, mas tinha entrado muito cedo, naquela época, como é o meu caso, que faço aniversário em novembro, acabei entrando mais cedo, entrei com seis anos na escola, então podemos dizer que eu já tinha um ano a frente, eu era sempre o mais novo da sala de aula. Mas acabei naquele ano deixando um pouco, ficava empinando pipa... /e me lembro de que a minha mãe começara a ficar preocupada né, porque eu era muito moleque, muito de viver na rua e tal, e tinha algumas coisas assim... Vizinho reclamando que o estilingue quebrou a vidraça e tal, mas deve ter pensado: ‘Pô, esse daí não vai dar nada, é melhor ele arrumar alguma coisa para trabalhar logo', e me lembro sempre de uma conversa, a qual ela chamou-me para conversar com ela, falou: ‘Olha... ' - ela fazia faculdade em Mogi das Cruzes, então ela tinha os filhos em casa, já era professora primária, mas ia até Mogi para fazer a formação em estudos sociais e estudos dos problemas brasileiros, fazia licenciatura. E ela falou: ‘Lá em Mogi, nós temos o SENAI, o SENAI é maravilhoso, tem cursos excelentes, eu fui até lá e me informei, tem aqui torneiro mecânico... ' e eu me lembro dela falando e eu pensando: ‘Poxa vida, será que ela não está botando fé em minha capacidade?', não que seja torneiro mecânico uma profissão humilhante ou desnecessária, nada disso, mas eu comigo sabia da minha potencialidade e sabia que eu estava tirando um ano ali por minha conta, não era aquilo que iria me atrapalhar. E eu me lembro de ter dado bastante corda para ela, falei: ‘Puxa vida, mãe, torneiro mecânico parece ser uma boa, vai lá e tira mais informações para mim!', então ela ia lá ao SENAI, trazia as coisas do torneiro mecânico, eu perguntava: ‘O que faz um torneiro mecânico?' e ela trazia as informações e tal... Aí ao final daquele ano, eu falei para ela: ‘Eu sei que a senhora gostaria que eu fosse um torneiro mecânico, mas eu quero dizer que vou estudar e estou pensando em outras coisas... ', então me lembrei desse fato agora que é bastante particular, então muitas vezes os pais acham, por aquilo que estão vendo dos filhos, e querem trilhar um determinado caminho para o filho. Para nós que somos pais é difícil entender isso, mas muitas vezes eles sabem o que estão fazendo e já têm algo em mente. Nosso papel em que ser o de facilitador e orientador, não tentar impor nada.
Pergunta:
Vou só te lembrar de que eu acho importante quando a gente fala da identidade visual da USCS nesses cinquenta anos, vou te entregar essa gravação na íntegra, e com certeza sua mãe vai ver e depois vai te dar um puxão de orelha por você ter enganado ela com o SENAI, lá. [risos]
Resposta:
[risos] Bacana. Bacana.
Pergunta:
Quando ela pegar os folhetins de torneiro mecânico, você já sabe que é _________
Resposta:
Interessante.
Pergunta:
[risos] Fale como foi o desenvolver da profissão.
Resposta:
Sendo contratado então... Os meus pais sempre cobram muito de nós, eu e meus irmãos, que nós nos mantivéssemos sempre muito bem informados, era hábito em casa, por exemplo, que meu pai comprasse o jornal ou vários jornais, todos os dias, ele comprava o que era a Folha de São Paulo e Estadão, diariamente em casa, já que era o meio de se buscar informações naquela época. E uma coisa que foi decisiva para que eu passasse em primeiro lugar no concurso foi inclusive a parte de conhecimentos ferais da prova, porque na parte de conhecimentos específicos eu tinha ficado em segundo lugar, e eu me lembro de que quem tinha ficado em primeiro lugar foi um xará meu chamando Paulo e que fazia faculdade comigo, ele estava no quarto ano e eu estava no terceiro. E depois na classificação geral eu acabei ficando em primeiro por conta da nota em conhecimentos gerais, outra pessoa ficou em segundo e o Paulo acabou ficando em terceiro, de primeiro ele acabou indo para terceiro lugar. Eu me lembro de que quando eu assumi a vaga ele falou: ‘Deliberato, que sacanagem! Eu passei em primeiro lugar, você passou em segundo, por fim acabei ficando em terceiro e você vai ser chamado antes de mim'. Ele era japonês, e eu falei: ‘Também pô, você só lê jornal japonês, não lê jornal brasileiro' [35'], e eu fui bem porque tinha o hábito de ler jornal. Então fui trabalhar na prefeitura de Itaqua, em uma escola de educação especial chamada Vicente Leporace, que existe até hoje em um bairro da cidade chamado Aracaré. Então já morando em Mogi, eu fazia o trajeto inverso, pegava o ônibus, por um pouquinho mais de uma hora, e descia próxima a escola. E nunca imaginei, mesmo que como aluno, que eu fosse trabalhar com neuropediatria, que era a área de atendimento que nós fazíamos lá na escola de educação especial. Então imaginava eu, como aluno de fisioterapia, tinha uma afinidade toda especial com a área de fisioterapia respiratória, hospitalar, que naquela época era muito restrita, nós não tínhamos praticamente fisioterapeutas trabalhando em hospitais. Hoje no hospital, uma UTI não é tocada sem a presença de um fisioterapeuta, na área hospitalar também, então não era a realidade daquela época. Então imaginei que eu iria gostar e que fosse me especializar na área de fisioterapia respiratória hospitalar. Quando eu fiz estágio na área respiratória já vi que não gostei, o que eu havia gostado na teoria não era muito a minha praia. Mas fui trabalhar e foi até interessante, eu me lembro de que quando cheguei para entregar os documentos e assumir a vaga, eu não tinha a mínima ideia da onde eu iria trabalhar na prefeitura de Itaqua, e falei para a pessoa: ‘Estão aqui os documentos, como eu passei em primeiro lugar, gostaria de saber quais são as minhas opções para escolher aonde eu vou trabalhar', e a pessoa falou: ‘Não, não tem opção nenhuma, todas as vagas são para trabalhar na escola de educação especial Vicente Leporace', ‘Mas escola de educação especial? O que um fisioterapeuta vai fazer lá?' e a pessoa falou: ‘Chegando lá você vai saber, vai ser apresentado para a diretora da escola e tal', então era uma escola de educação especial que tinha uma equipe multiprofissional, o que foi uma experiência maravilhosa, porque naquela época isso também era uma coisa muito pouco comum, muito pouco usual né. Então lá na escola nós tínhamos, já tinha uma fisioterapeuta, eu estava entrando como um segundo fisioterapeuta, tínhamos terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, acho que nós só não tínhamos um educador físico fixo da escola, mas existia uma equipe multiprofissional ali. Fui trabalhar com os alunos da escola que apresentavam algum tipo de limitação da sua funcionalidade, fui atendendo então as crianças. E uma área que jamais imaginaria trabalhar era com neuropediatria né, no estágio acabei indo até relativamente bem, mas se fosse uma área que eu tivesse para escolher, não teria a escolhido. E me apaixonei verdadeiramente pela área de pediatria, fui fazer todos os cursos possíveis, aconteceram experiências marcantes que até hoje me soam muito fortes por conta desses três anos em que eu trabalhei em Itaquaquecetuba. Depois, com dois anos de formado, trabalhando em Itaqua e lá na escola Vicente Leporace, eu soube que tinha surgido uma vaga para professor auxiliar de uma disciplina que eu gostava muito chamada cinesioterapia, que é a terapia baseada em movimento, exercícios e tal, aonde eu me formei, lá na faculdade Clube Náutico Mogiano, iria ter uma seleção em um concurso, fazer uma seleção para professor auxiliar. A professora titular, a professora responsável por aquela disciplina tinha sido a minha professora, então eu me candidatei também a essa vaga. Teve uma primeira prova teórica, depois teve uma prova prática e por fim teve uma entrevista, e eu fui passando as fases para, finalmente, na hora da entrevista, fui escolhido. Então com dois anos de formado, eu já tinha o trabalho na prefeitura de Itaqua, e já estava lecionando como professor auxiliar de cinesioterapia na faculdade em que eu havia me formado. A partir daí a questão da docência foi crescendo, me absorvendo, como diz a música e tal, e eu fui me dedicando cada vez mais na questão da formação acadêmica, fazendo os cursos de especialização Lato-Sensu, o mestrado na época, em fisioterapia, era muito difícil, existiam pouquíssimos mestrados no Brasil, ainda hoje a área de mestrado na área de fisioterapia ainda não existe com a profusão que deveria, é uma formação ainda bastante limitada e normalmente [40'] as vagas são em universidades públicas e etc. Mas eu fui fazer as especializações do Lato Sensu, fui me especializando e depois de três anos já estando lá em Itaqua, surgiu uma segunda oportunidade que foi quando abriu o curso de fisioterapia na universidade de Mogi das Cruzes, o coordenador do curso de Mogi era o antigo coordenador da Faculdade do Clube Mogiano, e pediu que eu mandasse um currículo, falou: Mande-me um currículo porque estamos começando com o curso e eu lhe conheço, conheço sua formação, você foi meu aluno no Náutico, então me mande um currículo aqui e vamos ver o que acontece', e eu fui chamado também para dar aula lá em Mogi, então aí foi necessário que eu optasse ou continuar com uma faculdade dando aula em um local e trabalhando em Itaqua, ou ficar com as duas faculdades lá em Mogi e eu acabei optando por ficar em Mogi né.
Pergunta:
Como era a sua atuação como professor auxiliar nesse início de docência?
Resposta:
A gente ajudava com... Era uma disciplina bastante prática né, essa disciplina ela é bastante prática, então na parte teórica eu acompanha o professor, ajudava-o em coisas básicas da sala de aula, eu fazia a chamada, passava as listas de presenças, ajudava em algumas coisas em relação à elaboração ou configuração dos planos de ensino, naquela época as coisas eram datilografadas, então na verdade, a professora titular me dava um rascunho feito à mão e eu datilografava para entregar a faculdade, para a gestão da faculdade... Nas práticas aí sim a turma era dividida, a professora ficava com uma parte da turma fazendo as demonstrações e correções das manobras dos movimentos, e eu ficava com a outra parte da turma, a gente ficava rodando lá entre os alunos e a necessidade do professor auxiliar, assim como acontece até hoje nos cursos da área da saúde, tinham muito a ver com a questão das aulas práticas.
Pergunta:
E como foi dar a primeira aula sozinho?
Resposta:
Olha não sei se pelo fato dos pais serem professores e de ter desde sempre vivido dentro de uma escola, para mim foi bastante tranquilo, já havia um pouco dessa característica, acho que desde uma coisa minha, um pouco inata. Nas escolas deve acontecer isso até hoje, eu espero, mas sempre a gente tinha aquela semana de datas comemorativas, então... Até o dia do índio, coisas que hoje são menos divulgadas, infelizmente, talvez até as escolas trabalhem menos do que naquela época, abolição da escravatura, dia do índio... E outras datas mais importantes, mais significativas no calendário, como o sete de setembro, etc... Havia sempre festividades, então era comum, por exemplo, que cada sala de aula, cada turma preparasse alguma coisa e apresentasse no pátio para as demais turmas. Então me lembro de que desde o segundo ano do ensino primário, depois o segundo, terceiro e a quarta série do ensino primário, quando precisava ir à frente para ler um texto ou para falar alguma coisa sobre aquela data comemorativa, eu sempre era o escolhido pelos professores, então falar em público, acho que é uma coisa mais ou menos natural, então eu acho que a primeira aula... Não me lembro de ter sido nada muito fora do normal não, até porque essa experiência como professor auxiliar também foi muito boa né, porque as minhas primeiras aulas não foram totalmente sozinho né, foram coisas do tipo: ‘Semana que vem é aula de um assunto tal, eu vou falar uma parte e você fala a outra parte', então eu já fui fazendo inserções e assumindo algumas aulas na disciplina de cinesioterapia, até que surgiu a opção de uma disciplina que ficou vaga de fisioterapia preventiva na própria faculdade e me ofereceram: ‘Olha, tem uma disciplina que irá ficar vaga para o ano que vem, você não gostaria de pegar essa disciplina?', e é interessante porque essa disciplina de fisioterapia preventiva, que foi a primeira que eu assumi sozinho, vamos dizer assim, foi a que deu origem ao meu primeiro livro né, que tem uma história bastante curiosa também que do material de aula como é que se chegou ao livro, e que saiu uma segunda edição agora em 2017, e tem a ver com essa primeira disciplina que eu assumi chamada "fisioterapia preventiva". Então é interessante porque as coisas vão caminhando de tal maneira... E eu também me apaixonei muito pela fisioterapia preventiva, [45'] quando eu tive acesso ao conteúdo dessa disciplina, eu me lembro de ter aceitado na seguinte condição com a gestora do curso na época né, falei: ‘Olha, eu aceito desde que eu possa mexer no plano de ensino', porque a fisioterapia preventiva que eu tive como aluno, e não fazia muito tempo que havia sido aluno, era uma disciplina que eu chamei na época de fundo de currículo, uma disciplina só para cumprir currículo, os alunos a detestavam, porque ela estava posicionada em um momento do currículo, que você tinha disciplinas que para os alunos eram mais interessantes, e essa em particular falava muito de saúde pública, mas em um contexto utópico né, então era uma disciplina a qual os alunos davam pouca importância. Então eu propus para a coordenadora do curso: ‘Olha, se você me deixar mexer no currículo para que eu o torne mais atrativo para os alunos, eu topo', e ela me perguntou: ‘as o que você colocaria? Você falaria da parte de saúde pública, eu falei: ‘Sim, falaria, mas em um contexto de prática, e não só de teoria. Então se você me der à opção de fazermos uma ou duas visitas por ano, uma por semestre, ou mais; Se pudermos levar os alunos, nós temos um asilo aqui do lado, se pudermos visitar o asilo, temos um hospital aqui perto, se pudermos visitar o hospital... Mostra a saúde pública em foco. E uma parte que naquela época não se contemplava, mas eu já visualizava a possibilidade da fisioterapia atuar naquela área, era a parte de saúde do trabalhador e falei: ‘Se eu puder colocar alguma coisa sobre a saúde do trabalhador aqui no currículo e mostrar para os alunos da fisioterapia como é que o fisioterapeuta pode trabalhar com ginástica laboral... ' - que naquela época era restrita aos educadores físicos apenas - ‘... Trabalhar com ergonomia... Caso eu possa fazer isso, eu topo', e ela falou: ‘Não, você tem as ideias muito boas, me apresenta um projeto, uma proposta aqui', eu apresentei, ela topou, e assim eu comecei a dar aulas de fisioterapia preventiva. Logo no começo, no primeiro mês, eu já tinha preparado uma apostila de fisioterapia preventiva, eu estava com ela debaixo do braço, indo em direção a fotocopiadora para colocar a brochura, para encadernar, passando pelo livreiro da instituição, um rapaz chamado Luís, ele me parou e perguntou: ‘O que é isso Paulo?', eu falei: ‘É o material das minhas aulas, eu vou montar uma apostila... ' - naquela época se trabalhava muito com apostilas e até obrigavam o aluno a comprar, coisa que posteriormente e ainda hoje é totalmente proibido, quer dizer, você pode até ter a apostila, mas você não pode obrigar o aluno a comprar essa apostila. E eu fui fazê-la, ele falou: ‘Posso ver?', eu deixei, ele folheou um pouquinho, e ele me disse o seguinte: ‘Paulo, posso fazer uma cópia para mim?', eu falei: ‘Pode Luís, vamos lá'. Fomos juntos a fotocopiadora, e eu perguntei: ‘Por que você quer uma cópia disso? Você vai fazer o curso?' e ele falou: ‘Não, mas eu conheço um pessoal de uma editora aí e eu achei o material muito interessante, quero levar para eles'. Na época eu me lembro de ter... Falei: ‘Luís larga a mão de ser... Isso não é um livro, pô, é material de aula... ' eu não dei muita bola, ele fez a cópia dele e eu esqueci o assunto. Passado dois meses ele me ligou dizendo que a editora tinha se mostrado interessada, fui até a editora, editora Manole, que já era muito forte na época e hoje na área de fisioterapia e saúde em geral, junto com a Guanabara, ______ e Martinelli, que são as três grandes editoras da área da saúde no Brasil, me reuni com o seu Manole, que é um romeno naturalizado brasileiro e que era o dono da editora, e ele mostrou interesse, perguntou se com alguns ajustes eu gostaria de ter o livro publicado... Isso foi no ano de 2000, o livro em 2001 ficou pronto, e esse ano como eu disse, em 2017 saiu à segunda edição do livro e ele é um best-seller, de vendas da Manole... Por muito tempo ele ficou como o único livro sobre esse assunto no Brasil... Fisioterapia Preventiva por muitos anos ficou sendo uma literatura única, em 2010 ou depois a Guanabara também lançou um livro sobre isso... Então hoje são os dois que existem no mercado.
Pergunta:
Você nunca... Nem passava pela sua cabeça que isso poderia acontecer né?
Resposta:
Não. E da para perceber, pelo bate papo que estamos fazendo aqui com essa retrospectiva história que... É interessante como algumas coisas parecem que estão mais ou menos premeditadas ou que existe... [50'] A questão de Mogi e Itaqua, dos vínculos né... Para onde as coisas foram me levando, enfim... Para chegar onde estou hoje, fazer o mestrado e depois me dedicar praticamente a só seguir a carreira acadêmica né...
Pergunta:
Vou aproveitar já que você levantou a bola: como que você teve contato com a USCS?
Resposta:
Bom... Depois dessas experiências dando aula em Mogi e principalmente por causa da questão do livro, eu acabei recebendo vários convites para dar aula em outros locais. Então houve um momento... Eu já estava nessa época recém-casado né, e quando minha filha estava pequena, ela é nascida em 1995, então mais ou menos por aí, eu estava dando aula em cinco locais diferentes, então dava aula em Mogi, nas duas faculdades de Mogi, dava aula em Guarulhos, dava aula em São Paulo... E uma universidade que eu dava aula em São Paulo era a universidade São Marcos, no bairro do Ipiranga, ali eu dei aula e em 2000 fui convidado para ser gestor do curso, aceitei e a partir daí... Na São Marcos, nós tínhamos alguns professores que já eram, estavam começando aqui no antigo IMES, aqui na USCS... Porque os cursos de saúde começaram... Eles tiveram autorização para funcionar em 2000, e eles começaram a ser planejados e a funcionar em 2002. Então, se não me falha a memória, em 2002, houve o concurso, e dentre esses professores que já estavam aqui na USCS e que davam aula também na São Marcos, nós tínhamos o professor Carlos Eduardo Panfílio... Eu era gestor do curso de fisioterapia e ele era professor de anatomia lá na São Marcos e foi ele quem me disse: ‘Olha, eu estou como gestor em um curso novo que está surgindo no Instituto Municipal de São Caetano, no IMES, e queria te levar lá para conhecer'. Eu já estava orando em São Paulo naquela época, eu morava na rua Bom pastor, no bairro do Ipiranga, e era praticamente divisa com São Caetano né, muito perto... E tinha recebido o convite também para dar aula e ser gestor do curso da UNINOVE, do Campus novo do Memorial da América Latina, e já tinha decidido largar algumas faculdades e me concentrar mais em duas, por exemplo, porque na época eu também conciliava outra função que era a de consultor de empresas, então eu fui com tudo para essa área de saúde do trabalhador, eu tinha uma empresa de consultoria na área de saúde do trabalhador, então eu dava aulas, era gestor do curso da São Marcos e tinha a empresa de consultoria também. E aí não demonstrei muito interesse porque não tinha tempo disponível, eu me lembro de ter dito claramente para o professor Panfílio: ‘Olha, eu não tenho disponibilidade nenhuma. Na verdade, o que eu estou fazendo no momento já é pensar em... ' - Eu já tinha pedido para sair da universidade de Guarulhos, tinha recusado o convite da UNINOVE para ser gestor do curso no Campus novo... - ‘Então não quero. Não vou nem conhecer porque não tenho interesse'. E aí no último dia do concurso, era uma sexta-feira e eu me lembro de que estava bem chuvosa, e se eu não me engano as inscrições iam até às 22h da noite, alguma coisa assim. Eu estava trabalhando na São Marcos e ele foi me buscar, ele falou: ‘Paulo, eu quero que você dê aula de fisioterapia preventiva no IMES! E quero que você dê aula também de cinesioterapia' - Que são as duas áreas que eu... Eu comecei a dar aulas de cinesioterapia, depois fui para a área da saúde do trabalhador e fisioterapia preventiva - ‘... Eu quero você nessas duas disciplinas, se vai ser você ou não, eu não sei, mas se você não prestar o concurso nós não vamos saber', e eram pagas, as inscrições do concurso eram pagas, não sei se fosse hoje o equivalente a R$50,00 ou R$100,00, não me lembro, mas me lembro de que ele até disse assim de brincadeira: ‘Mas pagar as duas para você eu não vou porque é muita moleza. Mas se eu te pagar uma e você pagar a outra inscrição, você vai?' e eu falei: ‘Não, a questão não é a inscrição. Mas já que você está colocando nesses termos, eu pago as inscrições e vou lá, me sinto até lisonjeado por você estar aqui no último dia, vindo me buscar para que eu vá fazer a inscrição', então ele me trouxe aqui para São Caetano [55'], fiz a inscrição nas duas disciplinas, e passei. Os concursos daquela época também tinham provas práticas, tínhamos depois uma entrevista com a psicóloga, enfim. Fui passando pelas etapas lá, fui chamado e estou aqui até hoje.
Comecei aqui na USCS em 2003, e me lembro também de uma situação muito interessante, não sei se estou atrapalhando a sua pauta...
Pergunta:
Não. É bate papo mesmo.
Resposta:
Um funcionário do RH da USCS que hoje não está mais conosco, Leonardo dos recursos humanos, me ligou e eu estava na praia com minha família e ele falou: ‘Professor, você tem que trazer os documentos... ' - Eu já sabia quais eram os documentos, já estava tudo pronto em casa preparado, mas eu estava na praia, estava de férias né, e isso foi em janeiro de 2003. Eu falei: ‘Ah, tudo bem. No final de semana eu volto para São Paulo e na segunda-feira eu levo', ele falou: ‘Professor, infelizmente hoje é o último dia', ‘Mas como é que você me liga hoje?', ‘Bom, hoje é o ultimo dia, você tem que me trazer hoje' [...] Eu estava em Ubatuba e do jeito que eu estava, eu saí: ‘Bom, tudo bem. Eu subo, levo e depois volto. São 2h30min de carro, sem problemas nenhum'. Só que eu subi do jeito que eu estava né, com camiseta, bermuda, um chinelo no pé... Passei em casa, peguei os documentos e fui levar. Deu tudo certo, agradeci, fui me despedir dele e ele falou: ‘Não. Não. Não. Agora como é de praxe, a nossa diretora administrativa faz questão absoluta de conhecer todos os professores e novos funcionários da USCS no primeiro dia', eu falei: ‘Ah, não. Como é que eu vou conhecer a diretora da universidade do jeito que eu estou?' - O cabelo como o de quem tinha saído do mar, de chinelo, bermuda... E eu sempre fui mais formal, então aquilo para mim era uma coisa inadmissível. - ‘... Eu só estou assim aqui porque foi uma coisa realmente urgente, então, por favor, fale para ela que eu venho na segunda-feira adequadamente vestido', então ele ligou para ela...
Pergunta:
Para a Vera?
Resposta:
Vera Basso. Eu falei: ‘Não, fala para a professora... ' e ele falou: ‘Primeiramente é o seguinte, eu vou ligar para ela, mas não a chame de professora, é Vera Basso, e não professora Vera Basso', aí ligou... ‘Ah, está bom', desligou o telefone e ele falou: ‘Ela falou que é para você ir lá, não tem essa conversa não'. E ele me levou até a sala da Vera Basso e eu bastante envergonhado daquela situação já fui logo me justificando com o porquê que eu estava vestido daquele jeito, mas ela foi super natural, super tranquila, só quis realmente me conhecer, se apresentou, me deu as boas vindas... Então já foi uma receptividade bastante interessante e marcante, porque eu me senti muito em casa na USCS, por essa receptividade e por estar conversando com quem na época era diretora administrativa e que fez questão de me conhecer, independentemente de não estar trajado com a formalidade que talvez a situação pedisse.
Pergunta:
Ela falou: ‘Senhor, nas aulas procure não vir de chinelo!' [risos]
Resposta:
[risos]
Pergunta:
E como era a instituição que você encontrou aqui em 2003?
Resposta:
Olha, eu verdadeiramente não conheço ninguém que tenha conhecido a USCS, estado aqui tempo suficiente para tal, que não tenha se apaixonado pela universidade, esse foi o meu caso, por exemplo. Eu logo me apaixonei pela USCS. Teve o fato de que eu estava aqui quando o curso começou... Outro detalhe importante é de que eu já conhecia a USCS mesmo antes de ter indo prestar o concurso, numa situação muito específica que o professor Panfílio pediu a minha ajuda na época, pela a minha formação na área de saúde do trabalhador e na área de ergonomia. Quando a clínica ficou pronta ele pediu a minha opinião: ‘Paulo, a clínica está pronta. Como você sabe eu gostaria muito que você prestasse o concurso e fosse lá trabalhar com a gente, e eu sei que você é da área de ergonomia, muito da parte de acessibilidade, de pessoas deficientes, e tal [1h] e eu queria que você fosse lá dar uma olhada na clínica para ver se está tudo certo, se está de acordo, ou se há alguma coisa que precisamos fazer para adequar a clinica antes de ela estar aberta', então eu me lembro de ter vindo conhecer a clínica e falar: ‘Pensando na NBR-50 que trata de acessibilidade, ergonomia e essas coisas, tem sim algumas coisas que eu poderia apontar', fiz então um relatório para ele com aquela visita na época. Então eu já havia estado aqui em uma função como essa, ele me pediu um relatório e eu fiz.
Assim que eu assumi as aulas, e a primeira turma de estágio chegou para o estágio em 2005, ele me pediu então que eu ficasse como coordenador da clínica e posteriormente dos estágios também, então eu já comecei na USCS, não somente sendo professor, mas também como coordenador da clínica dos estágios. [...] Então a gente viu o curso começar, a clínica começar, que foi uma parte importante no reconhecimento do curso, a primeira comissão que veio de especialistas da Secretária Estadual De Educação com o ministério da educação, eu tive uma reunião com eles, na qual eles apontaram todas as questões da clínica e eu coloque todo o planejamento da clínica, tudo o que pensávamos em fazer, eles propuseram algumas mudanças... Tivemos o reconhecimento, depois de alguns anos a renovação do reconhecimento... Eu sempre estive bastante envolvido com questões da gestão do curso de fisioterapia. Fui gestor em um período de seis meses, de agosto de 2009 a janeiro de 2010, quando foram implantados os cursos modulares... Na época, o professor Silvio Minciotti pediu que, como eu tinha uma experiência prévia dos cursos, de matrizes modulares da São Marcos, que eu ajudasse a implantar as matrizes modulares aqui na USCS... Sempre estive muito envolvido com as questões da USCS. São Caetano, em si, é uma cidade muito característica, muito acolhedora. Hoje eu moro em São Caetano e digo sempre que é uma cidade na qual poderia ter uma ou mais teses de doutorado sobre ela, porque ela está inserida em uma grande área urbana do Brasil, do grande ABCD e em São Paulo, por exemplo, e ao mesmo tempo em que você está vindo de São Paulo e entra para São Caetano, parece que você entrou em uma cidade do interior, pelo menos essa é a percepção que eu sempre tive. Eu morava no Ipiranga, atravessava para ir para São Caetano por alguma razão, ou para usufruir dos parques que aqui tem, ou para almoçar em algum restaurante, alguma coisa assim, trazia meus filhos e me sentia em uma cidade do interior. Quando você está em São Bernardo ou Santo André, que são cidades maiores e muito mais populosas, você entra para São Caetano e parece que está em uma cidade do interior, e eu não sei se tem a ver também com a característica de ser uma cidade de imigrantes italianos, espanhóis muito fortes, com bairro Barcelona, sobrenomes italianos em tudo quanto é rua e tal, que da um pouco essa característica para São Caetano, fora o fato de ser uma das menores cidades do estado de São Paulo, né. Fiquei sabendo pelo nosso atual pró-reitor de graduação que foi a área territorial de São Caetano é menor que a área territorial do aeroporto de Cumbica, é a quarta menor cidade do estado de são Paulo se não me falha a memória, então com tudo isso a gente cria um vínculo muito forte, eu me sinto muito vinculado a USCS, tanto que há dois anos e meio atrás, quando eu assumi outras funções da parte administrativa da universidade, já tinha assumido a gestão do curso de fisioterapia em 2013 e em 2014 assumi a diretoria geral da escola de saúde, a convite do reitor atual, professor Bassi, e do pró-reitor da época, professor Marcos Biffi... A ponto de decidir mudar a minha vida para São Caetano, então eu vim morar em São Caetano e deixei de fazer algumas coisas que eu fazia paralelamente para me dedicar exclusivamente a USCS desde então.
Pergunta:
Bom, você falou que viu o curso nascer né, até antes de estar aqui na USCS, você viu o início da clínica né, queria que você falasse um pouquinho de alguns fatos marcantes dessa história, da área de saúde da USCS como um todo e mais especificadamente da fisioterapia, [1h5'] quer dizer, quais momentos você destacaria, ou quais momentos te vem agora na memória?
Resposta:
São muitas recordações de todas as turmas que já passaram, de fatos, acontecimentos que nós tivemos... A questão da escola de saúde na USCS demorou a pegar, vamos dizer assim entre aspas... Esse prédio, pela história que a gente conhece e escutou, é um prédio que foi concebido quando a administração superior decidiu pelo início dos cursos na área da saúde, então quando o CONSU e o CONSEP decidiram pela abertura dos cursos na área da saúde... O professor Denis Donaire uma vez comentou comigo que a discussão em nível de CONSU e CONSEP era se a USCS iria... Se o antigo IMES iria para a área da saúde ou para a área de engenharias, por exemplo. Então se decidiu pela área da saúde, mas sempre houve a questão da escola de negócios, o curso de administração de empresas, principalmente, e também ciências contábeis, serem o cargo chefe da USCS né, então acho que isso ficou por muito tempo atrelado à questão do IMES, e se passaram muitos anos, vou dizer até que recentemente, hoje nós estamos com os primeiros cursos da saúde, se eu não me engano o primeiro curso foi de educação física em 2002, os demais cursos da saúde que nós chamamos de tradicionais: enfermagem, farmácia, nutrição e fisioterapia, vieram em 2003. Depois, mais recentemente em 2014, entrou medicina, em 2015, psicologia - tem a escola de psicologia, mas também é saúde, né - então são sete cursos que nós temos na área da saúde. Mas em 2002, com o início da educação física e, mesmo muitos anos depois, ainda era uma surpresa quando nós comentávamos com alunos em feiras de estudantes ou com colegas: ‘Ah, onde você está agora?', ‘Estou em São Caetano', ‘Ah! Mas tem saúde na USCS?' [...] Então eu acho que isso demorou um pouco para evoluir, mas de maneira muito marcante, houve um primeiro movimento, que foi o início dos cursos modulares na gestão do professor Silvio Minciotti, que alavancou e consolidou a existência dos cursos da saúde na USCS e, posteriormente, em 2013, com o início da gestão do professor Bassi, a escola da saúde deu um grande "boom", vamos dizer assim, ao passo que, em 2015/2016, a escola da saúde se transformou na escola com o maior número de alunos hoje da USCS, então nós continuamos com a escola de negócios como a escola mais tradicional e temos hoje a escola da saúde, junto com a escola de direito como as três maiores escolas em número de alunos da instituição. Então os últimos anos, foram anos muito profícuos para a escola de saúde, em nível de questão de parcerias, em questão de trabalho, que todos os cursos da escola da saúde fazem, tanto em nível municipal quanto em nível regional... Então, por exemplo, há muitos anos que nós somos chamados pela associação dos comerciários da cidade de São Paulo para o mutirão da saúde que existe uma vez por ano no mês de abril no pátio do colégio em São Paulo, quer dizer, eles poderiam chamar cursos da saúde de diversas instituições de ensino superior que estão até mais próximas, geograficamente falando, lá da sede da associação dos comerciários, mas eles fazem questão de que todo ano sejam alunos do curso de fisioterapia, educação física, nutrição, enfermagem e etc., junto com professores que são aqueles que vão montar um stand nessa feira que eles fazem... Na verdade não é nem uma feira de saúde, é um evento voltado para a cidadania, então você tem toda a parte de saúde, com a parte preventiva, aferição de pressão arterial, questão de glicemia, de avaliação postural, uma série de coisas que os cursos da saúde desenvolvem lá da estrutura de stand que eles montam, mas eles também auxiliam a tirar documento, tem corte de cabelo para o pessoal que é morador de rua, então é um grande evento de feira de cidadania e há muitos anos que eles fazem questão de que sejam alunos e que a participação da parte da saúde seja da USCS. [1h10'] Depois, há três ou quatro anos atrás, o Lions Clube da segunda região em que é sediada na Praça da Sé, em São Paulo, na região da Praça da Sé, também nos chama como entidade da saúde para essa feira de cidadania que eles fazem então isso mostra que há um reconhecimento em relação aos cursos de saúde da USCS e o crescimento que eles tiveram. A gente sente hoje também, muitos ex-alunos da USCS de turmas recentes e de turmas mais antigas que já são professores em outras instituições, nessa semana mesmo nós recebemos a visita de uma aluna de fisioterapia que é professora em Jundiaí, que está terminando o doutorado na Medicina ABC... Então você vê que foram pessoas que tiveram não só a formação como fisioterapeutas, mas que dentro dos cursos aqui da USCS, se identificaram com a questão acadêmica e estão partindo, inclusive, para a docência superior também, e nós temos em particular na área da saúde, uma coisa que é muito gratificante e que faz tudo valer a pena, é o reconhecimento da pessoa que é atendida nas várias clínicas e laboratórios que nos temos que fazem os atendimentos à população de São Caetano e do entorno, de outros municípios que fazem divisa com São Caetano... Recentemente nós recebemos uma carta de um paciente nesse sentido, dizendo que já havia passado em atendimentos em outros locais naquela determinada área, mas que pela primeira vez tinha se sentido verdadeiramente tratado né, tratado em relação ao seu problema de saúde e tratado também em relação à questão de apoio psicológico, na questão do lado humano também, se sentiu um ser humano sendo tratado e não como uma doença, uma sequela... Então essas coisas fazem a gente sentir que estamos no caminho certo.
Pergunta:
Quer uma água?
Resposta:
Acho que uma água agora...
Pergunta:
Estamos chegando à etapa final.
Resposta:
É. Uma aguinha agora por causa do calor aqui.
Pergunta:
É. Mas tranquilo né?
Resposta:
Tranquilo. [pausa para beber água] Estou atropelando muito aí a pauta?
Pergunta:
Não, não.
Resposta:
É que às vezes você se lembra de um detalhe que deixa passar e esquece...
Pergunta:
É. Mas a ideia é nem ter pauta mesmo. Eu tenho alguns tópicos aqui que são coisas que eu quero falar, mas a ideia é não ter uma pauta porque a ideia da história de vida é isso né, é que o próprio depoente possa ir fazendo as sinapses e vendo o que, naquele momento, o que lhe vem à cabeça, o que é bacana falar. Com as pessoas que vêm comigo ao Campus Barcelona acontece muito isso, da gente bater um papo aqui e aí à volta, daqui até lá é sempre: ‘P***! Esqueci-me de falar isso!' ou ‘Ah, eu devia ter falado isso', e é sempre assim mesmo né.
Resposta:
Por que você não tira o celular e fala assim: ‘Olha me deixa gravar para você'? [risos]
Pergunta:
É. Exatamente. [risos] Mas assim, o importante é: o que você lembrar naquele momento da conversa né, naquele momento, naquela hora foi algo significativo para gente bater um papo né.
Resposta:
Porque as coisas fogem realmente né, às vezes tem um detalhe que é importantíssimo e pode ter certeza que se a pessoa lembrou com você no local, ela chegou em casa e falou: ‘P***, o mais importante eu não falei'.
Pergunta:
É isso. E o que a gente tem notado muito nesse projeto, obvio que quando a gente o começou que foi lá nos 45 anos, a ideia era trazer história sobre a universidade, até para poder mostrar os passos que essa instituição tem, não é uma instituição que surgiu ontem né, e saber das histórias que estão na cabeça das pessoas que viveram aquilo. Então a pessoa vem e fala: ‘Ah, como eu fazia antes o controle do atendimento ao aluno sem o computador', ______________, que é o funcionário mais antigo fala: ‘Então, a gente tinha uma fichinha assim, pegávamos e tal... ', mas a gente foi vendo, até nesse congresso de história oral que a gente teve no México agora em abril, que a Eliane foi participar desse projeto lá que foi bem bacana, e a gente viu que tem um lado lá também de identificação...
Resposta:
Acho que tiveram duas alunas né? Você [apontando para a Eliana] e mais uma né? Para representar o trabalho lá né?
Pergunta:
Exatamente. A Mariele apresentou o projeto né. E a gente percebe ao analisar isso, ao trazer essas memórias [1h15'], você acaba refletindo coisas que, às vezes, se você der não parasse para falar sobre elas, você não pararia para pensar, e grandes partes dos funcionários acabam chegando a essa conclusão de pertencimento mesmo, ‘Olha o quanto eu fui importante nessa história, e eu conto a história da universidade que também foi importante na minha vida né', então isso também deixa um resíduo de moral da _____, de pertencimento.
Resposta:
É. Nesse final de semana a minha cunhada estava tomando um café, acho que no sábado à tarde e ela me perguntou, né: ‘E aí Paulo? O que você pensa sobre voltar a morar em Mogi?' e eu falei: ‘Olha, hoje se eu precisar optar por uma cidade de residência definitiva quando me aposentar ou coisa do tipo seria São Caetano e não mais Mogi. Sinto-me muito ambientado', tanto em relação à USCS né, que como eu disse, não conheço ninguém, claro que pode existir, mas eu não conheço ninguém que já trabalhou aqui, que eventualmente nem esteja mais e que você encontre por aí... Os professores que saíra por outras razões, nós temos, por exemplo, o professor Marcos e professora Flora que eram da fisioterapia... A professora Flora passou em um concurso e foi dar aula numa universidade pública, outr